terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Escorpião

Eu estava aqui limpando as coisas, tentando manter tudo em ordem e a cabeça fria e no lugar. Foi aí que eu me senti a menor e mais desprezível coisa do mundo. Por que pra essas partículas subatômicas a vida não é mais que um segundo. E a minha se repetiu de novo na minha frente nesse exato intervalo de tempo quando eu olhei pra vassoura e vi um maldito escorpião amarelo no meu calcanhar de Aquiles. Meu coração pulou. Acelerou. Relinchou. Eu tinha sido picado e decidi beber tudo que tinha direito antes de morrer. Mas ainda estou aqui, podem ver, cheirando a vodka, cachaça e uísque.

Mas quer saber, quem faz rodeio é peão, ou pior, touro.
A verdade nua e crua é que eu tocava minha vida, fazia meu trabalho e me divertia. Sim, me divertia. Divirto-me ainda, aliás. Eu ouvia músicas antigas quando percebi que não sabia mais sentir aquilo. Eu não sabia mais como é ainda amar você. Eu era imune a picadas de Escorpiões. Por um segundo eu senti e a vista escureceu, mas eu continuei vivo. Vivo por que eu não morro de amor. É um alívio. Porém, naquele minuto eu pude sentir o coração que eu não sentia há tanto tempo. Não aquele simbólico, sentimental, mas o real. Eu senti ele bater com tanta força dentro do meu peito que eu imaginei que essa fosse a sensação de um rato preso dentro de um tambor. A visão não clareou, ela continuava negra. E eu sabia que eu olhava pra dentro do meu coração, agora simbólico. E eu não achei ouro. Eu achei pó. Demônios amarelos e pó. E eu senti medo e foi por isso que eu bebi. Não por que eu quase morri, mas por que eu continuo vivo. Eu bebi não pra acalmar um coração agitado, mas pra fazer essa coisa que estava silenciosa aqui dentro o tempo todo boiar, nadar, mergulhar, fazer qualquer coisa. Sim, eu estava fechado.

Um comentário:

  1. "E eu senti medo e foi por isso que eu bebi. Não por que eu quase morri, mas por que eu continuo vivo. Eu bebi não pra acalmar um coração agitado, mas pra fazer essa coisa que estava silenciosa aqui dentro o tempo todo boiar, nadar, mergulhar, fazer qualquer coisa. Sim, eu estava fechado."
    não vou dizer nada.
    hoje não.

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