sábado, 9 de outubro de 2010

Procura-se modelos antigos

Might be the devil playing a little game
I´m so tired of this old rhyme...


O lugar estava lotado e o sino não parava de tocar. Foi quando eu vi um carro de ébano reluzente parar em frente ao bar; fumaça saía do motor pela tela do painel como se saísse das narinas de um animal robusto, empertigado e altivo. Com um relinchar apoteótico ele silenciou; um vaqueiro desceu e fez a volta para abrir a porta para o passageiro: uma caixa preta como os cabelos e os olhos da Morte, cuja forma já anunciava o conteúdo sem mistério. Reclinou na minha vitrine, próximo a entrada do metrô com o instrumento nas mãos, tocando acordes e dedilhados. Ele fazia algum sucesso.

Quando já tinha visto todos os clientes irem embora e oferecem moedas e notas ao artista na soleira da porta era hora de fechar. Fui até a porta e vi o homem dentro de uma capa no chão abraçado ao velho Resonante com o chapéu de aba larga caído nos olhos. Com um chute suave na caixa do violão e um convite irrecusável com uma garrafa meio cheia de Jack Daniels – eu já esbanjava otimismo – ele acordou e entrou. Sentamos, jogamos e bebemos. Ele passou a madrugada. Pegou um quarto para descansar os ossos doídos acordou cedo, pôs suas seis cordas nas costas e partiu. A história que ele me contou vocês vão saber outra noite.


I need a litle something to ease the things
Oh, Lord, have a little mercy on the sugar cane

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