sábado, 14 de agosto de 2010

Miados no Telhado

Hoje ela entrou pela porta.

Quando toma um bolo ou fora ela sobe pela escada de incêndio no beco do lado do prédio e entra pela janela. Não tem pertences valiosos que tema serem roubados. Hoje ela entrou pela porta. Hoje ela sabe o que de valioso lhe foi privado. Hoje é dia de pagamento mensal que agora ela prefere vivo; nada de envelopes embaixo do capacho da entrada. Ela precisa conversar, contar sua história.

Ela sente falta. Mas não fala a ninguém, pois ela sente falta da única pessoa com quem conversava. Diz que vem saindo mais, que está no aperto por isso, mas aperto maior é aquele que a leva a procurar agora desesperadamente por um pouco de atenção desse Taverneiro. Dentro do quarto ela perambula, seus passos macios fazem sons monótonos de lamento. Ela sente falta dele. Não o vê há semanas. Ela diz que pensa em escrever um recado e deixar num envelope embaixo da porta, como faz comigo, mas ela não quer lhe escrever; quer falar, quer ver. Hoje ela quer cheirar e tocar até.
...

Ele não a vê de costas e se levanta de onde estava sem que ela o veja. Distraída com o gelo no seu copo de vodka, a deixo e vou até a mesa dele. Não existem cálculos no pedaço de papel macio do guardanapo manchado de café.

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