Atrás do vidro embaçado da porta um homem entra no bar.
Seria condizente com sua decadência de espírito se esse fosse uma daquelas espeluncas sujas, mas não é. O roteiro da sua vida é simplório, nada digno de uma nota quanto mais de uma resenha na sessão de crítica: a atmosfera não é pungente; suas atitudes não parecem deliberadas ou predestinadas, parecem aleatórias e sem importância cósmica ou vulgar. Ele é mais um figurante em cena, ele, que entra naquele bar bem iluminado no fim da rua escura e úmida no fim do mundo. Ele é um romancista miserável e patético com sua bolsa de couro velha debaixo do braço, uma figura até então tão inexpressiva que não causa riso ou choro de outrem a sua condição. Vida e obra insípidas.
Ele procurou um lugar iluminado. Encontrou num canto reservado uma mesa com abajur; lâmpadas dispostas nas paredes próximas à aresta comum tingiam a madeira da mesa e o tecido do estofado de cores aconchegantes. Ele cruzou o espaço interno e o solado de seus sapatos estalou contra o assoalho, mas ninguém lhe dirigiu qualquer interesse nem curiosidade, nem mesmo quando tirou seus instrumentos: um maço surrado de folhas amareladas, uma caneta tinteiro e um par de óculos de leitura empenado. A figura jocosa que visse aquele homenzinho ridículo em meio à papelada esparramada sobre a mesa, com uma mão a puxar o cabelo que disfarçava a calvície acima das têmporas grisalhas, a olhar em desalento cada página, teria a imagem tragicômica do Papai Noel fatigado, desprovido de sua longa e bonita barba branca, tornada cinzenta pelo descuido e talvez pelo vício.
O homenzinho de ombros encolhidos não passou a noite, mas se tornou cada vez mais frequente, sempre naquele seu cantinho reservado, o cantinho do escritor, até que sua assiduidade se tornasse como um relógio. A maravilha e o encanto pareceram se dissipar. Pareceram apenas. Nunca é assim no fim do mundo e ele ainda terá alguma história para contar sobre o balcão. Você pode escrever isso.
Mais um Jack Daniel´s sem gelo pra mim, Taverneiro. É sempre maravilhoso passar por aqui.
ResponderExcluir"O roteiro da sua vida é simplório, nada digno de uma nota quanto mais de uma resenha na sessão de crítica: a atmosfera não é pungente; suas atitudes não parecem deliberadas ou predestinadas, parecem aleatórias e sem importância cósmica ou vulgar."
ResponderExcluirparece ateh q sou eu...
shauishaisuhasiuhasiuhasiuhasiuhas...
flwz...
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